O egoísmo exagerado vem do amor excessivo a si mesmo, gera
doentia ganância e vaidade supina, alimentada crescentemente por um processo de
narcisação, o que raramente se encontra na feira pública, comprando batata
doce, porque o vaidoso não vai ao mercado para comprar batata, atitude,
considerada pelas suas idiossincrasias, completamente vulgar ou praticada pelas
pessoas simples, modestas, não vaidosas. O comércio que ilustra tais
“criaturas” é o do ouro, dos luxuosos automóveis ou dos caros imóveis… Também
porque o comércio é uma troca, e tais indivíduos não gostam de permutar seu
poderoso dinheiro por coisas tão ralés, banais como raízes: inhame, macaxeira
ou batata. Ora, não gostam de pagar, porque se acham merecedores de tudo sem dar
um tostão em troca… Ou consideram qualquer benefício, que venha de outrem, como
meramente um cumprimento do dever ou que tudo lhes advém por mérito. E quando
muito, erradamente pensam que a gratidão é uma troca, um “toma lá e me dá cá”;
são os mesmos que dizem: “Melhor do que dinheiro no banco é ter amigo na praça”, também deturpando o
sentido da amizade. E assim, são naturalmente uns ingratos, vítimas da
sensibilidade anormal, embora eles se diagnostiquem completamente normais…
O altruísmo vem do amor aos outros, a outrem, que percebe que
aquilo que recebe não era seu, a partir do grande benefício que a vida nos dá,
o que proporciona, como prazer, fazer bem aos outros sem exigir agradecimentos.
Sobre isso não precisamos citações de cunho religioso, budista ou cristão. Já
dizia o filósofo Nietzsche sobre
essa sensibilidade normal: “A alma delicada se sente mal quando sabe que receberá
agradecimentos”. Porém, essa alma vive a agradecer a magia da vida, benefícios,
dádivas recebidas. Há quem liste o que deve retribuir ou agradecer. E quanto
mais agradece, mais é grato, mais é feliz.
O egoísta narciso ou anormalmente enamorado de si mesmo não
precisa de lista dos benefícios recebidos, também não chega a esquecê-los, tão
somente acha que “aqueles benefícios” já eram seus, está apenas a receber
dívidas, o que já lhes pertencia, nada agradece porque tudo merece… E quanto
mais é ingrato, mais é infeliz. Se, algum dia, sentir um surto de sã
consciência, sofrerá uma dor: o dever da gratidão; Nietzsche filosofa também o outro lado da normalidade: “Uma alma grosseira se
sente mal quando sabe que precisa agradecer a alguém”.
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