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domingo, 16 de dezembro de 2018

Os Melhores Poemas de Vinícius de Moraes - 09 - Poema de Natal


Sobre o poeta Vinicius de Moraes escreveu Carlos Drummond de Andrade: “Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural. Eu queria ter sido Vinicius de Moraes”.

Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913, e morreu na madrugada de 9 de julho de 1980, aos 67 anos, devido a problemas decorrentes de uma isquemia cerebral.

Os poemas selecionados foram publicados nos livros “Cinco Elegias”, “Poemas, Sonetos e Baladas”, “Novos Poemas”, “Novos Poemas (II)” “Pátria Minha”, Livro de Sonetos” e “Antologia Poética”.

POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Crônica escrita no Jornal de Casnate con Bernate

Em outubro de 1986 fui convidado pelo Sr. Franco Magenta, um dos responsáveis pelo Boletim Informativo da cidade de Casnate Con Bernate, para que escrevesse uma visão que eu (como estrangeiro que lá vivia) tinha acerca daquele "paese" (município). 
Casnate Con Bernate é uma comuna italiana da região da Lombardia, Província de Como com cerca de 4.000 habitantes e distante 5 km da fronteira daquele país com a Suíça.





sábado, 10 de novembro de 2018

0s Deuses e a Astrologia


ÁRIES - Arianos são conhecidos pela sua intolerância e impulsividade, mas também pelo excesso de agressividade que muitas vezes colocam-no em situações difíceis e muita saia justa. A responsabilidade desse temperamento explosivo e em alguns casos, constrangedor, está nas mãos de um deus conhecido como Ares, o deus da guerra. Ares é um deus grego que, segundo a mitologia, gosta mesmo é de ver sangue em seu entorno, ele primeiro atira e só depois quer saber o que aconteceu.

TOURO - Taurinos são conhecidos pelo seu bom gosto e apreço pelo luxo. Possessivos e apegados a tudo e todos que amam, taurinos e taurinas não negam sua ligação com a deusa Afrodite, a deusa do amor, das finanças e do luxo. Considerada como uma das deusas mais poderosas do Olimpo, ela abriga em si a paixão, a luxúria e o amor.

GÊMEOS - Geminianos são conhecidos pela sua necessidade de movimento e curiosidade natural. Filhos do deus Hermes, da comunicação e da mediação, não conseguem ficar parados e gostam mesmo de fazer varias coisas ao mesmo tempo. Ele era considerado um dos deuses mais espertos do Olimpo. Carrega em si a dualidade e brinca constantemente com ela, confundindo os mais pobres e menos inteligentes dos mortais. Com a fama de embusteiro e grande prestidigitador, esse filho de Zeus, outro deus de grande poder do Olimpo, herdou de seu pai a capacidade de enganar, de mentir. E quando se vê em apuros, não pensa duas vezes.

CÂNCER - As pessoas de Câncer possuem uma capacidade quase sobrenatural de nutrição e proteção. Deméter, a deusa das grandes colheitas e da agricultura, era ela que nutria a terra e fazia crescer uma vegetação verdejante e suficiente para alimentar a todos. Era também considerada a protetora dos casamentos e da Lei Sagrada. Filha de Cronos, o deus do tempo e de Rhéia possuía ao seu dispor, algumas sacerdotisas que se chamavam melissas. Protetora da fecundação das mulheres e da terra, Deméter é a protetora de todas as sementes que existem debaixo do Sol.

LEÃO - Filhos de Apolo, o deus Sol, leoninos antes de qualquer coisa desejam ser o centro das atenções, estar entre os mais brilhantes e manter sua postura altiva. Apolo significa beleza, elegância e harmonia. Esse poderoso deus está também relacionado às artes, principalmente à poesia, à musica, mas também às profecias. Apolo era filho do grandioso Zeus e de Leto, deusa do anoitecer. Seus símbolos são a lira, o arco e a flecha.

VIRGEM - O mesmo deus Hermes que rege Gêmeos rege também os virginianos, mas podemos aqui encontrar um outro lado desse deus, mais voltado para a inteligência e a comunicação. Em virgem vamos encontrar um lado mais maduro, mas também mais neurótico desse pequeno deus com asas no pé. Hermes tem seus lados mais sombrios, não é só esperteza ou malandragem. Tanto que os geminianos também possuem dois lados. Seriedade também faz parte desse deus, que pensa demais. A razão pode ser sua maior bênção, mas também sua maior prisão. Libertar-se das amarras da razão é o seu maior trabalho.

LIBRA - Aqui encontramos mais um signo regido pela nossa Afrodite, a deusa do amor. No entanto, aqui encontramos uma outra Afrodite, não tão voltada ao amor carnal e à luxuria como encontramos no signo de Touro, mas sim, mais voltada à compreensão e intelectualização do amor e da beleza. Aqui encontramos um maior refinamento e capacidade social, um outro lado da deusa. A inteligência, o bom gosto, mas não necessariamente o luxo e a luxúria. As artes aqui funcionam pela quase obsessiva busca de equilíbrio que as pessoas desse signo vivem. O amor ao amor é encontrado aqui em sua maneira mais pura.

ESCORPIÃO - O deus que rege esse signo é nada mais, nada menos, que Hades, o deus dos infernos e das profundezas, e não poderia ser diferente. Também conhecido como Plutão, esse deus das profundezas, irmão de Zeus e filho de Cronos, dominava o mundo dos mortos, um lugar escuro e taciturno, onde só reinava a tristeza. Conseguiu esse lugar no Olimpo depois de uma luta com Poseidon. Poseidon ficou com os mares e ele com os infernos, os reais e os humanos. As sombras e as almas estavam sob o seu domínio, que era cuidadosamente vigiado por Cérbero, um cão de três cabeças e cauda de dragão. Hades tinha o poder de restituir a vida de um homem, mas fez isso muito poucas vezes.

SAGITÁRIO - Nossos amigos de Sagitário, por seu espírito de liderança, não poderiam ser regidos por outro deus a não ser mesmo o grandioso Zeus. O deus supremo do Olimpo, rei de todos os outros deuses, foi considerado o pai de todos os deuses e dos mortais. Era o Senhor dos céus, da chuva, presidia todos os fenômenos atmosféricos, recolhia e dispersava as nuvens, comandava as tempestades e lançava a chuva e os raios destruidores quando achava necessário. Tinha nas mãos o governo do mundo e zelava pela ordem e pela harmonia que devia reinar sobre as coisas.

CAPRICÓRNIO - Na mitologia, Cronos é o Senhor do tempo e o deus regente de Capricórnio. Cronos castrou seu pai, Urano, deus dos céus, e ocupou seu lugar. O senhor do tempo é disciplinador e tem relação com a maturidade conquistada pacientemente através do passar dos anos. Podemos perceber que a maioria dos capricornianos adoram relógios e normalmente fazem coleção deles. Esse deus é um deus rígido, endurecido pela vida, pouco emocional, mas é um deus que busca a estabilidade, a duração de tudo o que se propõe fazer na vida. Cronos não tem ansiedade e se alia ao tempo para atingir suas metas, que sempre são ambiciosas e grandiosas.

AQUÁRIO - Urano é o deus que rege Aquário, tanto o signo quanto a Nova Era. É um deus libertário, libertador, mas muitas vezes também libertino. Na mitologia existe pouca coisa sobre esse deus, mas teve um papel fundamental na saga da criação. Diz a historia que no início era o caos, de onde surge Gaia, a Terra. Gaia deu à luz Urano que, embora fosse seu filho, tornou-se também companheiro e amante. Gaia controlava e Terra e Urano, os céus. Urano tinha em sua mente uma visão ideal sobre todos os seus desejos. Essa é uma das maiores características das pessoas de Aquário e das benesses que esperamos para a Nova Era. Idealizam as relações, sejam elas quais forem. Querem filhos livres e perfeitos e relacionamentos onde possam manter a segurança e a liberdade.


PEIXES - Poseidon, o deus que rege Peixes, é o Senhor das profundezas dos oceanos, ou seja, das profundezas do mundo emocional, do inconsciente, da Alma Universal. Rege mais a psique coletiva do que a individual, e é também por isso que as pessoas de Peixes possuem uma mente mais voltada para o coletivo, o sofrimento de toda humanidade e o amor universal e incondicional. Na mitologia, era um dos três irmãos que dividiu o reino de Cronos. Os caminhos que Poseidon escolhe nunca são lineares, são curvos e tortuosos, e meio sem orientação, como um barco à deriva. Com Poseidon vida corre solta, está sempre em alto mar, sem âncoras e sentimentos de segurança. Poseidon, como também é conhecido, foi escondido pela mãe e criado entre os demônios de Rodes, o que o auxiliou muito na aceitação dos piores sentimentos humanos.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Buuu - L. F. Verissimo



Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.

- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.

- A nova classe média nos descaracterizou?

- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...

- Buuu para o Lula, então?

- Buuu para o Lula!

- E buuu para o Fernando Henrique?

- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!

- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?

- Sim. Não. Quer dizer...

- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.

- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.

- Por quê?

- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.

- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?

- Acho, mas...

Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

Luis Fernando Verissimo



Publicado no O Estado de São Paulo em 28 de abril de 2011.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Problemas e Soluções



Um paciente diz ao psiquiatra:

- Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Aí eu vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima... Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima... Estou ficando maluco!

- Deixe-me tratar de você durante dois anos. Venha três vezes por semana e eu curo este problema - diz o psiquiatra.

- E quanto o senhor cobra? - pergunta o paciente.

- R$ 120,00 por sessão - responde o psiquiatra.

- Bem, eu vou pensar - conclui o sujeito.

Passados seis meses eles se encontram na rua.

- Por que você não me procurou mais? - pergunta o psiquiatra.

- A R$ 120,00 a consulta, 3 vezes por semana, 2 anos = R$ 37.440,00. Ia ficar caro demais. Aí um sujeito me curou por 10 reais.

- Ah é? Como? - pergunta o psiquiatra.

- Por 10 reais ele cortou os pés da cama!!!


REFLEXÃO

*Muitas vezes o problema é sério, mas a solução pode ser muito simples.*

*Há uma grande diferença entre foco no problema e foco na solução.*

*Concentre-se na solução ao invés de ficar pensando no problema!*

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Reminiscências (*) 24


POEMINHA PIRADO

Querer é sonhar sem sair da esquina
Em ser o maior consumidor de cocaína.
Isso é ASPIRAR.

Bolar e lançar sem vergonha
Um cigarro 100mm com filtro de maconha.
Isso é se INSPIRAR.

Tentar enganar sem dó
O seu bondoso traficante de pó.
Isso é CONSPIRAR.

Curtir e inalar sem falácia
Todo o estoque de éter de uma farmácia.
Isso é RESPIRAR.

A mente desoxigenar sem temores
Numa sauna alucinógena de horrores.
Isso é TRANSPIRAR.


VIVER É PIRAR.

(*) Segundo Platão, "lembrança do que a alma contemplou em uma vida anterior, quando, ao lado dos deuses, tinha a visão direta das ideias”.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Nietzsche para estressados - 14

A melhor arma contra o inimigo é outro inimigo


UMA GUERRA NÃO É TRAVADA apenas nos campos de batalha tradicionais, em que tropas tentam aniquilar umas às outras. Graças à gana de poder de que falava Nietzsche, a luta acontece em qualquer área em que os seres humanos disputem influência.

Existem disputas pelo poder em qualquer grupo de trabalho e até mesmo em um casal, quando os dois membros usam suas armas para conseguir o papel central.

Nós, seres humanos, somos animais territoriais e estamos o tempo todo tentando aumentar nossos domínios, inclusive o emocional.

Como nem sempre encontramos um inimigo para opor ao inimigo que está nos assediando, às vezes precisamos recorrer a outras estratégias. O tratado mais antigo para qualquer tipo de luta nesses casos é A arte da guerra, de Sun Tzu, que chega à seguinte conclusão:

“Se conhecer seu inimigo e a si mesmo, ainda que você enfrente 100 batalhas, nunca sairá derrotado. Se não conhecer seu inimigo, mas conhecer a si mesmo, suas chances de perder ou ganhar serão as mesmas. Se não conhecer o inimigo nem a si mesmo, pode ter certeza de que perderá todas as batalhas.”




Extraído do livro "Nietzsche para estressados" de Allan Percy.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Perversidade - Luís Fernando Veríssimo



Trabalhadores do mundo, uni-vos – não que vá fazer alguma diferença. Os trabalhadores do mundo são vítimas da globalização perversa, que aboliu as fronteiras para empregadores atrás de mão de obra barata e desregulada, mas não para eles.

Nenhuma solidariedade é possível num mundo em que o capital vai atrás do lucro onde quer e o único internacionalismo permitido ao trabalho é a migração ilegal e o tráfego tétrico de empregos exportados cruzando com desemprego importado.

Economistas neoclássicos dizem que o exercício continuado do livre-comércio dará razão ao ur-clássico David Ricardo, que no século 18 teorizou que Estados nacionais explorando suas respectivas vantagens em recursos naturais, capacidade industrial e mão de obra acabariam se complementando e todos ganhariam com isso, inclusive os trabalhadores, no melhor de todos os modelos econômicos possíveis.

Mas o Ricardão tinha outra teoria, que chamava de “a lei férrea dos salários”. Para ele, mesmo no melhor dos mundos teóricos, os salários tenderiam a se estabilizar ao nível da subsistência mínima, já que o trabalho é um recurso universalmente disponível e infinitamente substituível.

A organização do trabalho a partir do século 19 e o crescimento dos sindicatos parecia desmentir esse fatalismo de Ricardo, pois os trabalhadores aos poucos deixaram de ser o lado indefeso do modelo ideal.

A legislação social, em maior ou menor grau, nos países industrializados – ou em países como o Brasil, em que a legislação de Vargas precedeu a industrialização – inviabilizava a teoria de Ricardo, pelo menos em tese, e retirava as condições para a confirmação da sua lei férrea.

A globalização perversa está restaurando essas condições.
O trabalho organizado perde a sua força até em países como a França e a Alemanha, onde sindicatos e movimentos sociais sempre tiveram grande participação política, e a receita para “responsabilidade” econômica aqui no quintal passa pela flexibilização de leis trabalhistas e outros eufemismos para roubar do trabalho o seu poder de barganha.

Trabalhadores do mundo inteiro, hoje incapazes de se unir, só têm a perder uns 200 anos de luta, mais ou menos.

Por Luis Fernando Verissimo
(26/08/2018 - Estadão)

domingo, 26 de agosto de 2018

Do Mundo de Drummond - Resíduo



De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

8 Fatos Psicológicos Que Todo Mundo Deveria Saber

1- A tua música favorita é provavelmente associada a um evento emocional
Um estudo foi feito para buscar a compreensão da relação entre o indivíduo e sua música favorita, a conclusão foi de que a mesma estaria relacionada a um evento de forte nível emocional.

2- Convencer-se de que tu dormiste bem é um truque para que teu cérebro acredite que isso realmente aconteceu
Segundo um estudo publicado no site The Atlantic, isso realmente é possível. É mais uma vitória para a mentira e para a ilusão. Há quem diga que a ignorância é uma benção, nesse caso, talvez seja sim.
Tu ainda concordas que “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”?

3- Gastar teu dinheiro com experiências, ao invés de coisas, te deixa  mais feliz
Que tal aquela viagem tão esperada?

4- Estar com pessoas felizes te faz feliz
Essa não é uma surpresa, né? Impossível não gostar de estar perto de pessoas alegres que buscam fazer coisas interessantes, que buscam melhorar os dias.

5- Quando tu lembras um evento passado, na verdade tu estás te lembrando da última vez que lembraste isso
Por esse motivo que as memórias se apagam e distorcem ao longo do tempo.

6- Se tu contares teus objetivos para outras pessoas, as tuas chances de atingi-los serão menores
Pesquisas desde a década de 1930 têm provado que isso é verdade.

7- As tuas decisões são mais racionais quando tu pensas em outro língua
Um estudo da Universidade de Chicago mostrou que coreanos que pensavam em outras línguas estrangeiras tinham reações menos emocionais.

8- Certas práticas religiosas diminuem o estresse
Estudos americanos mostram que pessoas que meditam ou rezam diariamente são menos estressadas.



sábado, 11 de agosto de 2018

Vitório Soa Como Ironia



Nunca sonhei ser presidente de nada. 
Com uma exceção: presidente do Grêmio.

Sou de tal forma desastrado para administrar que estragaria qualquer empreendimento. E esse seria o objetivo, quebraria o Grêmio. E nem iria fazer sabotagem, apenas daria o meu melhor, como diriam os jogadores, e estaria feita a lambança. Eu tenho o dedo podre para negócio. Já vou avisando, que ninguém venha a ser o meu sócio!

Mas teria que ser um plano secreto, posto em ação desde criança. Atuaria como um infiltrado colorado na arena tricolor, um agente duplo para boicotar o plantel. Após ganhar a confiança com alguns títulos (jamais me arriscando a obter um Mundial, mesmo que isso significasse perder para Mazembe), não haveria mais descrença e oposição. Escolheria o técnico menos apropriado (de preferência, um estrangeiro calmo e educado), compraria os jogadores em fim de carreira, assumirias negócios suicidas como pagar 500 mil mensais ao meio-campista Anderson, e pouparia os craques da sequência de jogos. Em meses, o Grêmio estaria degolado, refém de barbáries mexicanas e gaudérias.

Engrandeceria as teorias conspiratórias planetárias, ao lado daquelas tradicionais de que o Anticristo poderia surgir do Vaticano e de que Obama é, na verdade, um alienígena.

Manteria a verdade escondida de todos, inclusive da esposa e dos filhos. Vejo como o plano perfeito. Mas no meu caso já é tarde, todos sabem de minha paixão pelo colorado. E todos sabem que essa paixão é para sempre. Trocamos de tudo, menos de time, a única paixão perpétua.


Lembrei do plano maquiavélico porque uma redundante ideia vem martelando o cérebro depois do cinco a zero que o Inter levou do Grêmio e da demissão injustificável de Aguirre três dias antes do clássico: outros podem ter realizado a fantasia no lado contrário e conseguido. 
Será que o Vitorio Píffero não é gremista? 
Isso explicaria muita coisa.

Texto de Fabrício Carpinejar.