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quinta-feira, 9 de junho de 2016

Quando Cedemos Ao Medo - Mia Couto





"Quando se cede ao medo do mal, já se nota o mal do medo."
Fonte - O Barbeiro de Sevilha. Autor - Beaumarchais , Pierre

Tememos perder o emprego e ficamos sem emprego, porque temos medo.
Temos medo de mudar e mudamos para pior, porque temos medo.
Temos medo de reagir manifestando o nosso descontentamento.
Temos medo de perdermos o pouco que temos e ficamos atordoados, porque perdemos tudo.
Temos medo de amar, medo de ser amados, de nos divorciarmos, de beijarmos e, porque temos medo, nada disso aproveitamos.

Ter medo faz parte da natureza humana; é ele o que nos alerta para os diferentes perigos e nos faz sobreviver perante o risco que se aproxima, no entanto é ele que nos ajuda a encontrar as melhores soluções.

Ter medo é saudável, desde que consigamos perceber a sua essência e superá-lo. É do medo que nascem os heróis, porque reagem ao medo de morrer e os faz lutar. Quem reage superando, se torna herói.

Daqui do que foi dito posso concluir que ter medo, e não agir, é como morrer lentamente por inanição.

"Quem teme o sofrimento sofre já aquilo que teme."
Autor - Montaigne , Michel de

quarta-feira, 1 de junho de 2016

“FODA-SE” por Millor Fernandes



O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de foda-se que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se?

O foda-se aumenta minha autoestima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.
- Não quer sair comigo??? Então foda-se!!!
- Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo??? Então foda-se!!!

O direito ao foda-se deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua.
Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Pra caralho, por exemplo.
Qual expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade do que Pra caralho?

Pra caralho tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas pra caralho,
o Sol é quente pra caralho,
o universo é antigo pra caralho,
eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do pra caralho, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso Nem fodendo!

O ‘Não’, não é ‘não’! e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade, ‘Não, absolutamente não!’ o substituem. O nem fodendo é irretorquível e encerra, mata, liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo: nem fodendo!
- Marquinhos presta atenção, filho querido, Nem fodendo!!!
O impertinente se manca na hora!

Por sua vez, o Porra nenhuma atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional:
"Ele redigiu aquele relatório sozinho, porra nenhuma!"

O Porra nenhuma, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos aspone, chepone, repone e, mais recentemente, o prepone:
- presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um Puta-que-pariu!, ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...
Diante de uma notícia irritante qualquer... puta-que-o-pariu!

Dito assim, te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça. 

E o que dizer de nosso famoso vai tomar no cu!?
E sua maravilhosa e reforçadora derivação:
Vai tomar no olho do teu cu!?

Tu já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
Chega - vai tomar no olho do teu cu!!
Pronto, tu retomaste as rédeas de tua vida, tua autoestima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: Fodeu!
E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!

Tu conheces definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa?
Algo assim como quando tu estás dirigindo bêbado, sem documentos do carro, sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de ti mandando tu parar:
O que tu falas?
Fodeu de vez!

Liberdade, igualdade, fraternidade e...  Foda-se!!!