El Patrón Del Área Salva
No mês de seu aniversário, posto essa homenagem a um dos maiores jogadores que já
vestiu a jaqueta colorada e um dos maiores zagueiros que o mundo já viu jogar..
Nascimento: 25 de Outubro de 1946, em Valparaíso, Chile.
Posição: Zagueiro
Clubes: Santiago Wanderers - CHI (1963 e 1965-1966), Unión La Calera - CHI
(1964), Peñarol - URU (1967-1971), Internacional - BRA (1971-1976), Palestino -
CHI (1977-1980), Fort Lauderdale Strikers - EUA (1981) e Colo-Colo - CHI
(1981-1982).
Principais títulos por clubes:
1 Recopa dos Campeões Mundiais (1969) e 2 Campeonatos Uruguaios (1967 e
1968) pelo Peñarol.
2 Campeonatos Brasileiros (1975 e 1976) e 6 Campeonatos Gaúchos (1971,
1972, 1973, 1974, 1975 e 1976) pelo Internacional.
1 Campeonato Chileno (1978) e 1 Copa do Chile (1977) pelo Palestino.
Principais títulos individuais:
Jogador Mundial do Ano da IFFHS e da FIFA: 1976
Eleito para a Equipe das estrelas da Copa do Mundo da FIFA: 1974
Futebolista sul-americano do ano – El Mundo (VEN): 1974,
1975 e 1976
Bola de Prata da Revista Placar: 1972, 1974, 1975 e 1976
Bola de Ouro da Revista Placar: 1976
Defensor sul-americano do ano – El Mundo (VEN): 1972 e
1977
Melhor Jogador do Campeonato Uruguaio: 1967 e 1968
Melhor Jogador chileno da história pela IFFHS
8º Melhor Jogador sul-americano do século XX pela IFFHS
37º Melhor Jogador do Mundo do século XX pela IFFHS
FIFA 100: 2004
Eleito para a Equipe de Futebol da América do Sul do século XX
Eleito entre os melhores 50 jogadores da história pela revista
“World Soccer”
Nomeado capitão em todas as equipes por onde passou
“O dono da área”
Don Elías. El Coloso. Gran Capitán. El Dios de Beira Rio. Gran Mariscal.
Apelidos e adjetivos dos mais variados tipos serviram para tentar denominar o
melhor jogador da história do futebol chileno, o zagueiro Elías Ricardo
Figueroa Brander, ou simplesmente Figueroa. Dono de um talento primoroso e
impecável dentro da área, o craque que brilhou em seu país, no Peñarol e,
principalmente, no Internacional, é sempre lembrado como o maior zagueiro do
futebol sul-americano na década de 70 e também do século XX. E foi mesmo.
Elegante, técnico e capaz de usar toda sua raça e força quando preciso,
Figueroa marcou época, foi o maior ídolo da história do Internacional, ao lado
de Falcão, capitão por onde passou e exemplo de liderança no esporte. Presente
em dezenas de listas de grandes esquadrões ou de seleções do século, Figueroa
foi gênio, craque e “autoritário”, a ponto de deixar para sempre sua frase
registrada: “A área é minha casa. Nela, só entra quem eu quero.” Falou
e disse, capitão! É hora de relembrar.
Adulto precoce
Tudo na vida de Figueroa, sejam as alegrias ou os desafios, começou
cedo. Bem cedo. Entre os dois e sete anos de idade, o garoto sofreu vários
problemas de coração e asma, que o proibiram de realizar atividades físicas.
Aos 11, teve um princípio de poliomielite, que o obrigou, veja só, a ter de
reaprender a andar. Depois de três anos, aos 14, Figueroa conseguiu superar as
adversidades e começou a treinar na cidadezinha de Quilpué, jogando como
meia-direita. Aos 15, passou num teste no Santiago Wanderers, onde começou a
jogar como zagueiro central ao invés de meia-direita. A mostra de sua qualidade
seria conhecida em 1962, quando o jovem integrou a equipe juvenil do Santiago
Wanderers em um amistoso contra a seleção brasileira que seria bicampeã
mundial. Todos ficaram impressionados com o garoto de 15 anos que esbanjou
personalidade e categoria perante craques como Pelé, Nilton Santos e Garrincha.
Mesmo com o desempenho formidável, Figueroa não conseguiu tirar da zaga da
equipe titular Raúl Sanchez, e foi vendido ao Union Calera, também do Chile.
Figueroa começou como jogador profissional em 1964 e pôde demonstrar seu
talento como titular, despertando novamente o interesse do Wanderers, que o
contratou em 1965. Naquele mesmo ano, fez sua estreia na seleção do Chile e
conseguiu, com apenas 19 anos, uma vaga no time titular que disputou a Copa do
Mundo de 1966. Mesmo com a seleção chilena eliminada na primeira fase, Figueroa
foi considerado o maior jogador do time na competição, despertando a atenção e
admiração de todo mundo.
Crescendo a cada dia
Depois da Copa, o Wanderers ficou pequeno demais para o talento de
Figueroa (que, para rechaçar sua precocidade, já era casado…). Muitos clubes
tentaram contratar o zagueiro chileno, mas quem ganhou a disputa foi o Peñarol
(URU), então campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes em 1966, recheado
de craques como Mazurkiewicz, Néstor Gonçalves, Alberto Spencer e Pedro Rocha.
Mesmo com tantos craques, Figueroa foi logo mostrando que também era um, e dos
bons, ganhando espaço no time e conquistando logo em sua primeira temporada o
Campeonato Uruguaio de 1967, de maneira invicta, com 15 vitórias e três empates
em 18 partidas. No ano seguinte, Figueroa venceu mais um Campeonato Nacional e
seguiu firme como titular da equipe aurinegra, esbanjando técnica e usando suas
“ferramentas” quando era necessário parar algum adversário mais habilidoso. Em
1969, Figueroa conquistou a extinta Supercopa dos Campeões Mundiais, competição
organizada pela Conmebol que reunia os clubes sul-americanos campeões mundiais.
O Peñarol deixou para trás Santos (BRA), Racing (ARG) e Estudiantes (ARG), com
quatro vitórias, um empate e uma derrota em seis jogos. Àquela altura, o craque
já era um dos maiores jogadores de seu país e também do continente, tendo
recebido o prêmio de melhor jogador do Campeonato Uruguaio em 1967 e 1968.
América na trave
Em 1970, Figueroa não conseguiu disputar sua segunda Copa, pois o Chile
não se classificou. A grande chance de título da temporada foi na Copa
Libertadores, quando o Peñarol conseguiu superar os obstáculos e alcançar a
decisão. Nela, porém, o time barrou na raça e na mítica equipe do Estudiantes
(ARG), que conseguiu (depois de uma vitória por 1 a 0 e um empate sem gols) o
tricampeonato consecutivo da Libertadores, igualando o próprio Peñarol em
número de conquistas. Ali, seria a última chance de título de Figueroa com o
manto aurinegro. Ele mudaria de casa muito em breve.
Quando o Beira Rio ganhou um rei
Em 1971, Figueroa disse um sonoro “não” ao poderoso Real Madrid após
receber uma proposta tentadora do clube merengue. O jogador preferiu ir jogar
no Internacional (BRA), pelo fato de o clube disputar o Campeonato Brasileiro,
onde estavam os maiores craques do futebol sul-americano, na opinião do próprio
zagueiro. A ida de Figueroa ao Brasil causou muita revolta na torcida do
Peñarol, que não admitiu a saída de um craque do porte do chileno. Também
pudera, pois Figueroa começaria a fase mais áurea de sua carreira vestindo o
manto vermelho do Inter.
Leão em campo
Ao lado de muitos craques, entre eles Falcão, Figueroa assumiu a
braçadeira de capitão do Colorado e começou a realizar partidas marcantes que
rapidamente encantaram os torcedores do Inter. Em 1971 e 1972, a equipe faturou
o bicampeonato Gaúcho, que se transformaria num histórico hexa, em 1976. No
período, Figueroa também aliou suas atuações entre o vermelho do Inter e o
vermelho da seleção do Chile, quando foi o principal responsável por
classificar a equipe para a Copa do Mundo de 1974. O Chile teve de disputar a
repescagem contra a União Soviética, em dois jogos. No primeiro, Figueroa fez
como nunca da área a sua casa, jogou demais, e os chilenos arrancaram um 0 a 0
heroico em Moscou. Como a URSS não decidiu disputar a partida de volta, no
Chile, em protesto ao golpe de estado no país, o Chile garantiu a
classificação.
O melhor
Na Copa de 1974, Figueroa foi ainda melhor que em 1966, mesmo não
podendo ajudar seu Chile a garantir uma vaga na fase seguinte, por ter de
encarar simplesmente as donas da casa, as “Alemanhas” Ocidental e Oriental. O
Chile perdeu para a Alemanha Ocidental, de Beckenbauer, por 1 a 0, empatou com
a Oriental em 1 a 1 e empatou sem gols com a Austrália. Naquele Mundial,
Figueroa ganhou um singelo elogio de um dos maiores craques da época, Franz
Beckenbauer, que disse ser “o Figueroa da Europa”. Também em 1974, Figueroa
ganhou pela primeira vez o prêmio de Melhor Jogador da América, em votação
feita pelo Jornal El Mundo. O craque venceria o troféu, também, nos dois anos
seguintes.
Rumo ao topo no Brasil
Sem rivais no Rio Grande do Sul, o Internacional de Figueroa colocou o
Campeonato Brasileiro de 1975 como grande objetivo da temporada. O torneio
daquele ano tinha uma primeira fase com quatro grupos, dois com 10 times e dois
com 11. O Inter caiu no grupo D, sendo o líder e um dos classificados, com oito
vitórias, dois empates e apenas uma derrota em 11 jogos, sofrendo apenas cinco
gols, reflexo direto de Figueroa à frente da zaga do Colorado. Na segunda fase,
dois grupos com 10 times cada classificariam os seis melhores de cada um. O
Inter foi novamente o líder, com cinco vitórias, quatro empates e uma derrota
em 10 jogos, sofrendo quatro gols. Na terceira (!) fase, mais dois grupos com
oito times cada, classificando os dois melhores de cada um para as semifinais.
Dessa vez, o Inter foi o segundo colocado, ficando atrás do surpreendente Santa
Cruz. Em sete jogos, os colorados venceram quatro, empataram dois e perderam
um. O tricolor de Pernambuco teve uma vitória a mais. O Inter estava
classificado. Mas teria que enfrentar o líder do grupo A: o Fluminense.
Na semifinal, disputada em partida única, o Fluminense levou mais de 97
mil pessoas ao Maracanã e tinha convicção de que iria para a final, tamanha a
qualidade de seus jogadores, orquestrados por Rivelino. Mas eles não contavam
com outro maestro do lado colorado, Falcão, tão bom quanto Riva, e Figueroa,
dono da área colorada. O Inter não se intimidou, apostou no equilíbrio e venceu
o Flu por 2 a 0, gols de Lula e Carpegiani. A vaga para a final estava
carimbada. E a Máquina Tricolor via o esquadrão vermelho acabar com a sua
magia.
Zagueiro “iluminado”
Dono de melhor campanha que o rival da final, o Cruzeiro, o
Internacional decidiu em sua casa o Brasileiro de 1975. O jogo, como não
poderia deixar de ser, foi muito disputado. O Cruzeiro tinha feras em campo
como Nelinho, Raul Plassmann, Piazza, Zé Carlos, Palhinha e Joãozinho. Em um
jogo tão pegado, quem brilhou foi a zaga colorada. Manga pegou tudo e mais um
pouco naquele jogo (inclusive um cruzamento de Nelinho com apenas uma mão) e
Figueroa teve de usar todas as suas armas (todas mesmo!) para parar o veloz
ataque cruzeirense. “Don Elías” foi ainda mais preciso no lance que decidiu a
partida. O craque marcou, de cabeça, o gol do título colorado em um lance
emblemático, em que um único feixe de luz do sol iluminou exatamente a cabeça
do zagueirão, fazendo com que o gol ficasse conhecido como o “gol iluminado”. O
Inter, pela primeira vez em sua história, era campeão nacional. Era, também, o
primeiro clube gaúcho campeão brasileiro, deixando o rival Grêmio ainda mais
raivoso. O artilheiro da competição foi o goleador colorado Flávio, com 16
gols. Era a glória tão sonhada que Figueroa queria com a camisa colorada. O
Brasil era dele. E o futebol também.
Ano perfeito
Em 1976, Figueroa viu o Inter cair na Libertadores, que teria o Cruzeiro
como campeão. Em compensação, no Brasileiro e no Gaúcho, a equipe colorada
manteve sua hegemonia. O time sacramentou o hexa estadual e levantou o
bicampeonato brasileiro, de novo em casa, ao derrotar o Corinthians por 2 a 0.
O Internacional era bicampeão brasileiro, coroava seu futebol eficiente,
brilhante e técnico, e colocava Falcão, Figueroa, Manga e Carpegiani no mais
alto patamar dos grandes do futebol brasileiro e até mundial (no caso de Falcão
e Figueroa). Naquele ano, Figueroa conquistou a Bola de Ouro da Revista Placar
de melhor jogador do Campeonato Brasileiro, que se somou às quatro Bolas de
Prata que ele já havia ganho em 1972, 1974, 1975 e 1976. O zagueiro também
levou os prêmios de Melhor Jogador da América do Sul pelo El Mundo e de Jogador
Mundial do Ano pela IFFHS e FIFA.
O bom filho a casa torna
Em 1977, com saudades da família e com certo receio de sua segurança em
Porto Alegre, Figueroa decidiu voltar ao Chile para jogar no Palestino. Mesmo
jogando num time desconhecido, Figueroa manteve a estrela vencedora e faturou a
Copa do Chile de 1977 e o Campeonato Chileno de 1978, com o destaque para uma
invencibilidade de 44 jogos do Palestino no país, um recorde até hoje. O
zagueiro manteve o bom nível no clube chileno até 1980, quando decidiu seguir o
caminho de outros grandes craques do futebol mundial, como Pelé, Carlos Alberto
Torres e Beckenbauer, e jogar no futebol norte-americano, mais precisamente no
Fort Louderdale Strikes, em 1981. O time fez uma boa campanha na Liga Nacional,
Figueroa jogou ao lado do peruano Cubillas e do alemão Gerd Müller, mas não
conquistou o título, caindo nas semifinais para o New York Cosmos. Depois da
aventura na terra do Tio Sam, Figueroa voltou a jogar no Chile, no gigante
Colo-Colo, onde encerraria a carreira.
A última Copa e o fim
Em 1982, Figueroa, com 35 anos, disputou sua terceira e última Copa do
Mundo, na Espanha, sendo o primeiro jogador chileno a disputar três Copas na
carreira (e voltando a um mundial depois de o Chile não disputar a Copa de
1978). O Chile foi novamente eliminado na primeira fase, sofrendo três derrotas
em três jogos, mas só o fato de ter estado na Espanha valeu demais para o
veterano craque. Depois da Copa, Figueroa encerraria a sua brilhante carreira
em janeiro de 1983, após disputar um clássico contra a Universidad de Chile
pelo Colo-Colo, time que venceria o Campeonato Chileno daquele ano, mas já sem
Figueroa. Terminava ali a carreira do maior jogador chileno de todos os tempos,
de um dos mais talentosos e primorosos zagueiros sul-americanos do século XX e,
sem dúvida alguma, de um dos maiores craques do futebol mundial. Mesmo depois
de ter se aposentado, Figueroa continuou a atuar no mundo esportivo, seja como
comentarista, seja como assessor esportivo e até dono de escolinhas de futebol.
O ex-craque continuou (e ainda continua) a receber prêmios, homenagens e
lembranças que valorizam cada vez mais o seu futebol mágico e soberano, que
será eterno, como o Don Elias. Um craque imortal.
Publicado
no site Imortais do Futebol em 23 de agosto de
2012
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