O poema das mãos soluçantes, que
se erguem num desejo e numa súplica
Como são belas as tuas mãos, como são belas
as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...
As tuas mãos dançam a dança incerta do
desejo, e afagam, e beijam e apertam...
As tuas mãos procuram no alto a lâmpada
invisível, a lâmpada que nunca será tocada...
As tuas mãos procuram no alto a flor
silenciosa, a flor que nunca será colhida...
Como é bela a volúpia inútil de teus
dedos...
O poema das mãos que não terão
outras mãos numa tarde fria de Junho
Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e
desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...
Há em torno a elas a tristeza infinita de
qualquer coisa que se perdeu para sempre...
E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas,
cheias de rugas, vazias de outras mãos...
E as mãos viúvas tateiam, insones, ? as
friorentas mãos viúvas...
O poema dos olhos que adormeceram vendo
a beleza da terra
Tudo eles viram, viram as águas quietas e
suaves, as águas inquietas e sombrias...
E viram a alma das paisagens sob o outono, o
voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...
E viram toda a beleza da terra, esparsa nas
flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das
colinas...
E a beleza da terra se fechou sobre eles e
adormeceram vendo a beleza da terra...
Carlos Drummond
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