De
tanto levar "frechada" do teu olhar
Meu
peito até parece sabe o quê?
"Taubua"
de tiro ao Álvaro
Não
tem mais onde furar
Teu
olhar mata mais do que bala de carabina
Que
veneno estriquinina
Que
peixeira de baiano
Teu
olhar mata mais que atropelamento de "artormove"
Mata
mais que bala de "revorve"
C E N S U R A ??? (*)
Adoniran Barbosa usava
em suas canções o jeito coloquial de falar dos paulistanos. Não querendo
problemas com a censura, em 1973 o artista decidiu lançar um álbum com várias
canções já gravadas na década de cinquenta.
Inesperadamente, cinco
das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas. Diante da linguagem
coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos
seus versos “O Arnesto nos convidou prum
samba/ Ele mora no Brás/ Nóis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo cuma baita
duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”, o censor
só liberaria a música se ele regravasse cantando assim: “Ficamos com um baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais (Nós
não somos tatus)”. Na letra da música “Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa –
Oswaldo Moles), a censora faz um círculo nas palavras "tauba",
"revorve" e "artormove", concluindo que a "falta de
gosto impede a liberação da letra".
Para que pudessem ser
aprovadas, “Samba do Arnesto” e “Tiro ao Álvaro”, teriam que virar “Samba do
Ernesto” e “Tiro ao Alvo”. Tiveram o mesmo destino "Já fui uma brasa"
(Adoniran Barbosa Marcos César), “Eu também um dia fui uma brasa. E acendi
muita lenha no fogão" e "O Casamento do Moacir" (Adoniran
Barbosa - Oswaldo Moles), "A turma da favela, convidaram-nos para irmos
assistir o casamento da Gabriela com o Moacir". "O Casamento do Moacir”
foi considerada de “péssimo gosto” pela censora Eugênia Costa Rodrigues.
(*) Diante da censura,
Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais
tarde, quando a burrice já tivesse passado.