Essa é a casa de meus saudosos Vô Mário
e Vó Iolanda. Aqui meu pai furou uma festa e conheceu minha mãe. Nessa casa nasceu
minha irmã mais velha. Grandes recordações, muitas brincadeiras com meus
primos. E até hoje guardo na lembrança o foguetório da Alvorada Colorada com a
inauguração do Estádio Beira Rio em abril de 1969.
Enfim!!! Mas hoje trago aqui um
depoimento de quem não viveu na casa, mas expressa seus sentimentos com muita
propriedade. Obrigado pelas palavras, professora!!!
“Profª.
Luiza Carravetta.
Prezados
colegas, queridos amigos.
Acredito
que todos têm uma casa da esquina.
Hoje
compartilho a minha com muita ternura e saudade.
Luz
e paz.
A CASA DA ESQUINA
Passei a infância e a adolescência
na Vila do IAPI. Depois do primário no Grupo Escolar Gonçalves Dias, ganhei uma
bolsa de estudos e fui para o colégio das freiras, o ginásio Santa Teresinha.
Saindo de casa, fazia um longo percurso
a pé para chegar à escola. Como não tinha relógio, dois pontos de referência
chamavam a minha atenção: o ônibus da Citral, que ia para Taquara, e a casa da
esquina.
Quando o ônibus passava perto da
casa da esquina, eu tinha noção de que estava no horário certo. Se ele
estivesse mais próximo da vila, eu precisava apertar o passo. A minha rotina só
era quebrada, quando fazia o trajeto de bonde, em dias de chuva ou quando o
dinheiro da passagem permitisse.
No imaginário de guria pobre do
IAPI, havia muitas fantasias sobre a casa da esquina: quem morava lá, como
seria a vida daquelas pessoas que habitavam lá naquela casa enorme, de dois
pisos, com aquelas bolas de cimento na frente, que tipos de cômodos havia,
quais seriam os móveis.
Nunca tive inveja de nada, mas
curiosidade em saber como seria viver numa casa grande, tão diferente do meu
mundo, de quem vivia num apartamento de dois quartos numa metragem de 35 metros
quadrados.
Há poucos dias, um grupo de
ex-alunas do Santa Teresinha reuniu-se para um chá. Consegui uma brecha na
agenda e fui me encontrar com as colegas de um passado distante.
O endereço do encontro era na
esquina da Assis Brasil com a Emílio Lúcio Esteves.
Quando me aproximei do endereço
enxerguei a padaria/confeitaria, localizada nada mais nada menos do que na casa
da esquina.
Levei um choque. Fiz um “revival”
de longínquas lembranças com gosto de uma vida pobre de bens materiais, mas
rica de experiências. A guria do IAPI ia, finalmente, conhecer a casa da
esquina.
Meu coração batia forte, mas foi
serenando na medida em que eu adentrava naquele “não meu lugar”. Parecia que eu
estava invadindo uma privacidade que nunca conheci.
No andar térreo, uma padaria bem
sortida ocupava todos os espaços. No segundo piso, mesinhas de uma casa de chá.
Num recinto separado, estava o meu grupo. Ali deveria ser um dos quartos. Havia
uma toalha estampada sobre a mesa. Tudo simples, bem diferente do glamour que
eu esperava.
No meu choque de realidade, voltei
no tempo. Revivi, nos meus devaneios, uma noção de espaço, onde tudo parecia
muito maior. Senti cheiros inconfundíveis de infância, de comida de mãe, de
calor humano, de aconchego de um período de felicidade plena.
Retornar à casa da esquina me
permitiu relembrar um período tão importante da minha vida. Vou deixar de lado
a casa onde eu entrei. Que ela continue proporcionando encontros nos seus chás
e na venda de pães, biscoitos e doces.
A minha casa da esquina continua
sendo aquela, rica na minha imaginação, tecida por sonhos não vividos, mas
sonhados e guardados num lugar muito especial do meu coração.
Luz e paz.”
Msg escrita pelo grande Olívio Dutra ao meu irmão:
ResponderExcluir"Pois eu passo com frequência pela Casa da Esquina, um sobrado, na entrada da Vila IAPI, duas quadras do prédio onde moro, indo duas quadras pela Assis Brasil, em direção ao N. Nos meus 48 anos de morador do bairro sempre olhei curioso para aquela casa e só bem mais tarde, depois de te conhecer e já como Prefeito, é que vim saber ter ela sido moradia de teus avós. Por vários anos depois vi empreendimentos ali se instalando sem muita continuidade. Me perguntava será pelo aluguel muito alto? Pela localização numa esquina, sem pátio, sem estacionamento ou porque os proprietários não permitem alterações no seu interior pensando, um dia, vir a torná-la residência? A especulação imobiliária deve andar de olho naquele imóvel, com que propósito não sei. Mas me pergunto: poderão os proprietários suportar a pressão do "mercado" para que ali não seja construído mais um edifício envidraçado? Como diria o Brecht: tantas estórias quantas perguntas. Mas... recordar é viver. Um abraço meu e da Judite!"