Não obstante haver controvérsias sobre esse poema ser ou não uma obra de Clarice Lispector, o que vale é a beleza do mesmo e sua criatividade, independente da verdadeira autoria.
sábado, 26 de agosto de 2017
Não Te Amo Mais - Clarice Lispector
Posted by
Nicotti
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04:18
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terça-feira, 22 de agosto de 2017
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
A Conciliação e o Enforcamento
Certa
feita, numa sessão na Justiça do Trabalho, as partes conversavam no sentido de
conciliar o feito.
Mesmo que
as tratativas girassem em torno de quantias irrisórias (digamos 100 reais nos
dias atuais), o reclamado encontrava-se irredutível.
As
partes acabaram conciliando o feito e, enquanto o magistrado ditava ao escrivão
os termos do acordo, o reclamado preenchia o cheque.
O juiz
ditava:
“- O
reclamado paga nesse ato a quantia de R$ 100,00 (cem reais)...”
Entretanto
ao passar o cheque para o reclamante, o réu comenta:
“- Agora
tu pega esse cheque e compra uma corda para te enforcar, seu vagabundo!!!”
Com o
que o juiz continua narrando ao escrivão:
“- (...)
a quantia de R$ 100,00 (cem reais) que são pagos pelo reclamado a título de
gastos pela compra da corda do enforcamento do Autor e mais R$ 100,00 (cem
reais) pelo acordo travado entre as partes.”
O juiz
determinou que o sujeito fizesse o outro cheque no mesmo valor e, apesar do reclamado
ter se revoltado, foi orientado por seu advogado que preenchesse o outro cheque
e não abrisse mais a boca até a retirada do recinto.
O magistrado em questão tratava-se do Dr. Cláudio Armando da Silva Nicotti
da 5ª. Junta de Conciliação e Julgamento de Porto Alegre - RS, meu pai.
O Estagiário e o Juiz
Era meados dos anos 80, uma tarde de
primavera e eu aguardava minha audiência, sentado dentro da sala onde as mesmas
ocorriam, assistindo as sessões que antecediam a minha.
O juiz era novato. Havia recém sido
empossado. Pior!!! Além de não ter sido um frequentador assíduo no judiciário
trabalhista, não tinha ainda, muita simpatia por estagiários. Havia um
tratamento diferenciado.
Em outras palavras: tratava-os com um
certo desprezo.
Após o pregão e a presença das partes já
devidamente sentadas em seus lugares à mesa, o juiz questiona o representante
do Autor (que trajava uma calça jeans, camisa verde, boina ao estilo Che
Guevara, calçando alpargatas):
“- O
senhor é advogado ou estagiário?”
E o rapaz prontamente lhe responde:
“- Estagiário,
Excelência!”
E o magistrado, de forma jocosa (com
ares de deboche) e sorrindo, assim reage:
“- Hummmm,
estagiááárioo é???”
Intrigado e surpreso com o comportamento
do juiz, o rapaz imediatamente lhe questiona (eis que sabedor da resposta):
“-
Vossa Excelência é o novo Juiz Presidente da Junta ou Substituto???”
O magistrado, com toda a inocência do
mundo aliada a uma felicidade (com ares de superioridade) responde:
“- Sou
o novo Juiz Substituto!!!”
O estagiário, num comportamento
idêntico àquele expressado pelo juiz, ou seja, em tom jocoso, debochado e
sorridente, reage:
“- Ahhhh!!!
Substituto é???”
Quase que instantaneamente, um famoso e
renomado causídico, militante há mais de 20 anos (isso na época), um verdadeiro
“macaco-velho”, que aguardava sua audiência ao meu lado, largou uma sonora
gargalhada o qual tentou segurá-la com a mão, o que só veio a dar mais
comicidade ao ocorrido, pois à medida em que ele se retirava do recinto, mais
ecoava seus risos.
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
7 “fatos” científicos que aprendemos errado na escola
O que você viu no
colegial não vale mais para os cientistas.
Não é segredo que a educação científica no Brasil
é problemática. A triste verdade é que
a maioria dos brasileiros não aprende direito, não ganha gosto pela ciência e
acaba esquecendo o pouco que aprendeu, para acabar se apegando a velhas crenças
que são fáceis de explicar.
O problema talvez esteja mais no método
que no conteúdo. Porque nosso currículo não é muito diferente do resto do
mundo. E aí a gente topa em outros probleminhas: a ciência avança mais rápido
que os livros didáticos, que tendem ao que é “seguro” e acabam refletindo
consensos de décadas atrás.
Então, mesmo se você não está na
maioria, e gosta e entende ciência, talvez ainda acredite em algumas coisinhas
passadas na escola que nenhum cientista defende hoje. Veja só:
1.
Os cinco sentidos
Então, quantos sentidos existem? Bom, aí
a porca torce o rabo. Na verdade, não é tão fácil assim definir o que é um
sentido. Podemos chamar nossa percepção da passagem do tempo, sem nenhum órgão
associado a ela, de sentido? No fim das contas, há quem fale em mais de 20
sentidos.
A certeza é que são mais de 5. Isso foi
ideia de Aristóteles, há mais de dois milênios. Aristóteles é um pai da
ciência, mas já passou da hora dos livros didáticos procurarem seu próprio
apartamento.
2.
A língua tem áreas diferentes para sabores, e eles são quatro
Pra começo de conversa, são cinco.
Também existe o umami (algo como “delicioso” em japonês), descrito em 1908
pelo cientista Kikunae Ikeda. Faz todo sentido, porque não tem outro nome: é
aquela sensação de água na boca vinda do queijo, tomate, bife e – a
inspiração de Ikeda – o dashi, caldo japonês de peixes e algas usado em
ensopados. O sabor indica a presença de glutamatos, produzidos por seres vivos,
e também vendido, na forma sintética, no Aji-No-Moto, criado um ano depois da
explicação de Ikeda.
Os cinco sabores são percebidos da mesma
forma na língua inteira. Não existem as áreas. O erro vem de 1901 por meio de
um estudo falho que, por algum motivo, colou mesmo assim. Desde 1974 está
provado que não tem nada a ver.
Outra coisa: o que chamamos de sabor
(veja lá atrás a controvérsia dos sentidos) é mais percebido pelo nariz do que pela língua. Laranja
e maçã tem tanto doce como azedo, mas parecem completamente diferentes, graças
às suas propriedades químicas detectadas no nariz. E também à sua textura,
percebida pelos sensores de pressão (tato) na língua.
3.
As cores primárias são amarelo, vermelho e azul
As verdadeiras cores primárias são
ciano, magenta e amarelo. Simplesmente não dá para fazer qualquer cor com
vermelho e azul. E dá para fazer azul com ciano e magenta e vermelho com
amarelo e magenta. Qualquer um que já recarregou uma impressora deve ter
percebido: as tintas vêm nessas três cores, e não nas do guache com que você sujou
os dedos na terceira série.
Só que isso não é tudo. Essas são
as cores primárias substrativas. Mas existe outro tipo de cores primárias, as
aditivas.
O branco é a união de todas as cores de
forma aditiva. E podemos produzir cores dessa forma emitindo luz. Se você
acender uma luz vermelha e outra verde, o resultado é amarelo, e não o marrom
desagradável produzido ao se misturar tintas da mesma cor. Isso porque estamos
ampliando o espectro luminoso ao adicionar mais partes dele à uma emissão de
luz. Dessa forma, as cores primárias aditivas são azul, vermelho e verde. De
fato, é assim que seus olhos funcionam: eles tem receptores para essas três
cores.
As cores primárias erradas vem da
Renascença, quando os pigmentos eram limitados. Desde o século 19 sabemos que
não é assim.
4.
Existem 3 estados da matéria
Sólido, líquido e gasoso, certo? Mas o que dizer do plasma, em que os elétrons se separam de seus núcleos, criando algo que parece gás, mas conduz eletricidade e pode ser controlado por campos magnéticos? Ou o cristal líquido, com propriedades tanto de sólido quanto de líquido, que também está na sua TV, mas não nos livros didáticos? E ainda o superfluido, um material que tem zero viscosidade, e corre para cima quando posto num recipiente?
Assim como no caso dos sentidos, existem muitos outros estados da matéria. A maioria deles só existe em condições raras e extremas, observados apenas em laboratório. Então, para simplificar, lembre-se pelo menos do plasma, que é comum, existe na natureza (no Sol e em raios) e é fácil de explicar: basta aquecer qualquer gás imensamente ou expô-lo a uma grande corrente elétrica.
Assim como no caso dos sentidos, existem muitos outros estados da matéria. A maioria deles só existe em condições raras e extremas, observados apenas em laboratório. Então, para simplificar, lembre-se pelo menos do plasma, que é comum, existe na natureza (no Sol e em raios) e é fácil de explicar: basta aquecer qualquer gás imensamente ou expô-lo a uma grande corrente elétrica.
5.
Existem 9 planetas no sistema solar
Essa é manjada para quem vem
acompanhando as notícias nos últimos anos. Plutão não é mais planeta. Então
temos 8. Mas você sabe por quê? Veja abaixo o tamanho de diversos corpos
celestes do sistema solar:
Plutão é menor que nossa Lua, e várias
outras luas do Sistema Solar. Também é menor que Eris um “planeta” que não
é ensinado na escola. E Tritão, uma lua de Netuno que, acredita-se, um dia foi
um planeta anão livre. Se Plutão fosse um planeta, então eles também teriam que
ser, e teríamos 11 planetas no sistema solar.
Como os astrônomos acham que podem
existir dezenas de objetos como eles ainda não descobertos no Cinturão de
Kuiper (área do Sistema Solar para além da órbita de Netuno, que inclui
Plutão), eles preferiram criar a categoria de “planetas anões” no lugar de ficar mudando toda a hora a contagem de
planetas.
Não tem um tamanho certo pra ser anão.
Basta não ser grande e ter gravidade o suficiente para “limpar sua órbita”,
isto é, fazer com que todos os objetos em sua órbita se tornem satélites, caiam
no próprio planeta, ou sejam desviados para longe. Nossa órbita, por exemplo, é
limpinha: tudo que havia no caminho hoje forma a Terra e a Lua.
6.
Um átomo tem essa aparência
É tão bonito e clássico que mesmo
agências científicas continuam a usá-lo. Mas completamente furado. O átomo das
ilustrações, tão icônica que é um símbolo da ciência, é baseado no modelo atômico de 1911 de Ernest Rutherford. Ele imaginou os elétrons como planetas orbitando uma
estrela.
Mas muita coisa aconteceu depois disso.
Dois anos depois, Niels Bohr desenhou a coisa como os elétrons orbitando em diferentes níveis energéticos, que ficou mais
parecido com o sistema solar:
Esse modelo é ensinado e cobrado em
vestibulares. Só que a carruagem andou. Em 1927, Werner Heisenberg (sim, o
ídolo de Walter White) postulou o princípio da incerteza. Que diz
que é impossível se saber a posição e movimento exatos de um elétron. Então um
átomo, na verdade, é formado por uma nuvem de elétrons. Eles podem estar em
qualquer lugar nessa nuvem e podemos saber apenas a probabilidade de estarem em
um lugar ou outro. Assim:
O que, vamos convir, não tem graça
nenhuma. Vamos abrir uma licença poética aqui e continuar a usar o átomo bonito
de antigamente em bonés, tatuagens e camisetas. Porque amamos ciência, Sr.
White!
7.
As cinco classes dos vertebrados
Peixes, mamíferos, aves, répteis e anfíbios.
Parece moleza, não? Répteis têm escamas e vivem na terra; anfíbios não têm
nada; mamíferos têm pelos; aves têm penas; peixes são os
que respiram embaixo d’água, podendo ser ósseos ou cartilaginosos.
Você pode classificar os bichos pelas
aparências. Foi o que o naturalista sueco Carl Linnaeus – nosso amigo
Lineu – fez em 1735, após dar uma volta ao mundo observando os bichos,
como Charles Darwin faria um século depois. Essa foi a primeira vez que
mamíferos ganharam nome. Antes disso, eram simplesmente chamados de animais.
Mas fazer o que Lineu fez hoje em dia é
meio que como dizer que um prédio é um tipo de caixa de sapatos porque ambos
são retangulares. Desde Darwin, o que interessa não é como os bichos parecem,
mas quais descendem dos mesmos ancestrais.
Lá atrás, há 3,7 bilhões de anos, no
começo da vida, há um só ancestral para você, os cogumelos e as bactérias no
iogurte. Bem mais recentemente, entre 5 a 9 milhões de anos, dependendo de a
quem você perguntar, está o ancestral em comum entre você e o chimpanzé.
Então o que temos é uma árvore que vai
se dividindo conforme uma espécie vai dando origem a outras, e assim por
diante. Podemos dar nome ao que vem depois de um galho em particular, e isso
faz sentido: todos os mamíferos descendem de um ancestral comum, por exemplo.
Essa Lineu acertou.
A coisa complica com as aves. Se você
olhar na árvore, vai ver que o galho delas descende dos dinossauros, que são
répteis. Por si só, isso não seria um problema. Poderíamos muito bem fazer uma
linha de corte aí e dizer que os dinossauros que sobreviveram são todos aves. O
caso é que outras coisas que chamamos de répteis estão mais perto das aves que
de outros répteis. Veja a encrenca:
Jacarés são parentes mais próximos das
galinhas que eles são das tartarugas ou lagartos. Então, das duas, uma: ou aves
são répteis, ou répteis não existem.
Tartarugas, lagartos e cobras, e crocodilianos
são cada um sua própria classe.
A solução mais moderna é extinguir as
classes Aves e Reptilia e usar no lugar a Sauropsida, que inclui todos os
répteis, incluindo dinossauros, e aves. Em bom português: esqueça os répteis.
Cobras, jacarés e tartarugas são ramos diferentes do mesmo galho em que estão
os urubus.
A verdade é que a velha classificação de
Lineu é cada dia mais obsoleta. A árvore da vida é complicada demais para ela.
Ao invés de falar em reinos, classes, ordens, famílias etc., os cientistas
preferem hoje falar em clades, classificações mais flexíveis, sem hierarquia definida.
Publicado no site Super Interessante
Por Fábio Marton
1 ago 2017, 20h11 - Publicado em 2 dez 2015, 17h30
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