Você é fundamental como aquela caixa de fósforo sobre a agulha para tocar, aos domingos, meu avariado vinil de Neil Young… Aquele pesinho sobre o braço do toca-discos para ultrapassar ranhuras, deslizar sobre traumas e tocar de ouvido a música de trabalho do nosso futuro.
Você é necessária como esponja de aço na antena da tv em branco & preto para livrar dos chuviscos a imagem dos meus estragos.
“Hey, Neil, o homem velho”, reverbera o som do Cidadão Instigado sobre Copacabana. “Hey Neil, o homem velho.
Será que você tem tantas angústias quanto eu? Tchururu…”
Você é a solução moderna, hightech no último, para meus defeitos de fábrica.
Você brilha aos olhos como a maçãzinha de Steve Jobs sob o sol dos arrastões cariocas dos meus guris.
A minha existência-gambiarra, ato contínuo, vira moderna instalação embutida ao seu clique remoto.
Você amanheceu tão longe neste domingo que o sonho foi bem mais nítido e veio antes do skype. O sonho, não sei se já lhe disse, Zazie, são restos de filmes de cineastas mortos.
Meu obscuro objeto de desejo…
Você esperou o sol em um país distante com uma garrafa de vinho para flanar por nós dois.
Segue a viagem… Santo teletransporte cuja arte aprendi com os escribas Jerônymo Monteiro e Arthur C. Clarke.
Viver é gambiarra, meu bem, o pesinho sobre a agulha, o Bombril na antena, ah, o fio terra para isolar o choque possível.
Segue a viagem… O amor é um “gato” de fios desencapados para retomar a eletricidade que um dia nos roubaram.
Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha
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