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quarta-feira, 1 de junho de 2016

“FODA-SE” por Millor Fernandes



O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de foda-se que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se?

O foda-se aumenta minha autoestima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta.
- Não quer sair comigo??? Então foda-se!!!
- Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo??? Então foda-se!!!

O direito ao foda-se deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua.
Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Pra caralho, por exemplo.
Qual expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade do que Pra caralho?

Pra caralho tende ao infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via-Láctea tem estrelas pra caralho,
o Sol é quente pra caralho,
o universo é antigo pra caralho,
eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do pra caralho, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso Nem fodendo!

O ‘Não’, não é ‘não’! e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade, ‘Não, absolutamente não!’ o substituem. O nem fodendo é irretorquível e encerra, mata, liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo: nem fodendo!
- Marquinhos presta atenção, filho querido, Nem fodendo!!!
O impertinente se manca na hora!

Por sua vez, o Porra nenhuma atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional:
"Ele redigiu aquele relatório sozinho, porra nenhuma!"

O Porra nenhuma, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos aspone, chepone, repone e, mais recentemente, o prepone:
- presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um Puta-que-pariu!, ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...
Diante de uma notícia irritante qualquer... puta-que-o-pariu!

Dito assim, te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça. 

E o que dizer de nosso famoso vai tomar no cu!?
E sua maravilhosa e reforçadora derivação:
Vai tomar no olho do teu cu!?

Tu já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
Chega - vai tomar no olho do teu cu!!
Pronto, tu retomaste as rédeas de tua vida, tua autoestima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: Fodeu!
E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!

Tu conheces definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa?
Algo assim como quando tu estás dirigindo bêbado, sem documentos do carro, sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de ti mandando tu parar:
O que tu falas?
Fodeu de vez!

Liberdade, igualdade, fraternidade e...  Foda-se!!!


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