Ganhe Bitcoins

sexta-feira, 23 de março de 2018

A Casa da Esquina - Família Jaeger


Essa é a casa de meus saudosos Vô Mário e Vó Iolanda. Aqui meu pai furou uma festa e conheceu minha mãe. Nessa casa nasceu minha irmã mais velha. Grandes recordações, muitas brincadeiras com meus primos. E até hoje guardo na lembrança o foguetório da Alvorada Colorada com a inauguração do Estádio Beira Rio em abril de 1969.
Enfim!!! Mas hoje trago aqui um depoimento de quem não viveu na casa, mas expressa seus sentimentos com muita propriedade. Obrigado pelas palavras, professora!!!

“Profª. Luiza Carravetta.

Prezados colegas, queridos amigos.
Acredito que todos têm uma casa da esquina.
Hoje compartilho a minha com muita ternura e saudade.
Luz e paz.

A CASA DA ESQUINA
Passei a infância e a adolescência na Vila do IAPI. Depois do primário no Grupo Escolar Gonçalves Dias, ganhei uma bolsa de estudos e fui para o colégio das freiras, o ginásio Santa Teresinha.
Saindo de casa, fazia um longo percurso a pé para chegar à escola. Como não tinha relógio, dois pontos de referência chamavam a minha atenção: o ônibus da Citral, que ia para Taquara, e a casa da esquina.
Quando o ônibus passava perto da casa da esquina, eu tinha noção de que estava no horário certo. Se ele estivesse mais próximo da vila, eu precisava apertar o passo. A minha rotina só era quebrada, quando fazia o trajeto de bonde, em dias de chuva ou quando o dinheiro da passagem permitisse.
No imaginário de guria pobre do IAPI, havia muitas fantasias sobre a casa da esquina: quem morava lá, como seria a vida daquelas pessoas que habitavam lá naquela casa enorme, de dois pisos, com aquelas bolas de cimento na frente, que tipos de cômodos havia, quais seriam os móveis.
Nunca tive inveja de nada, mas curiosidade em saber como seria viver numa casa grande, tão diferente do meu mundo, de quem vivia num apartamento de dois quartos numa metragem de 35 metros quadrados.
Há poucos dias, um grupo de ex-alunas do Santa Teresinha reuniu-se para um chá. Consegui uma brecha na agenda e fui me encontrar com as colegas de um passado distante.
O endereço do encontro era na esquina da Assis Brasil com a Emílio Lúcio Esteves.
Quando me aproximei do endereço enxerguei a padaria/confeitaria, localizada nada mais nada menos do que na casa da esquina.
Levei um choque. Fiz um “revival” de longínquas lembranças com gosto de uma vida pobre de bens materiais, mas rica de experiências. A guria do IAPI ia, finalmente, conhecer a casa da esquina.
Meu coração batia forte, mas foi serenando na medida em que eu adentrava naquele “não meu lugar”. Parecia que eu estava invadindo uma privacidade que nunca conheci.
No andar térreo, uma padaria bem sortida ocupava todos os espaços. No segundo piso, mesinhas de uma casa de chá. Num recinto separado, estava o meu grupo. Ali deveria ser um dos quartos. Havia uma toalha estampada sobre a mesa. Tudo simples, bem diferente do glamour que eu esperava.
No meu choque de realidade, voltei no tempo. Revivi, nos meus devaneios, uma noção de espaço, onde tudo parecia muito maior. Senti cheiros inconfundíveis de infância, de comida de mãe, de calor humano, de aconchego de um período de felicidade plena.
Retornar à casa da esquina me permitiu relembrar um período tão importante da minha vida. Vou deixar de lado a casa onde eu entrei. Que ela continue proporcionando encontros nos seus chás e na venda de pães, biscoitos e doces.
A minha casa da esquina continua sendo aquela, rica na minha imaginação, tecida por sonhos não vividos, mas sonhados e guardados num lugar muito especial do meu coração.

Luz e paz.”

Um comentário:

  1. Msg escrita pelo grande Olívio Dutra ao meu irmão:
    "Pois eu passo com frequência pela Casa da Esquina, um sobrado, na entrada da Vila IAPI, duas quadras do prédio onde moro, indo duas quadras pela Assis Brasil, em direção ao N. Nos meus 48 anos de morador do bairro sempre olhei curioso para aquela casa e só bem mais tarde, depois de te conhecer e já como Prefeito, é que vim saber ter ela sido moradia de teus avós. Por vários anos depois vi empreendimentos ali se instalando sem muita continuidade. Me perguntava será pelo aluguel muito alto? Pela localização numa esquina, sem pátio, sem estacionamento ou porque os proprietários não permitem alterações no seu interior pensando, um dia, vir a torná-la residência? A especulação imobiliária deve andar de olho naquele imóvel, com que propósito não sei. Mas me pergunto: poderão os proprietários suportar a pressão do "mercado" para que ali não seja construído mais um edifício envidraçado? Como diria o Brecht: tantas estórias quantas perguntas. Mas... recordar é viver. Um abraço meu e da Judite!"

    ResponderExcluir