Uma coisa é plano, outra é desejo, vontade, potência de querer mudar as coisas. Como se fora uma carta de intenções atirada dentro de uma garrafa a Iemanjá, aqui entre o Pina e Brasília Teimosa, dez pedidos para mudar os modos de macho neste 2014 que ainda se arrasta lento e sartriano qual uma ressaca de bebida falsa:
1) Que mesmo em um ano de Copa do Mundo no Brasil – imagina na Copa! - os homens consigam dedicar tanto tempo de devoção às suas mulheres quanto aos seus times do peito. Pedido modesto: basta um empate técnico. Nem estou pedindo que sejam mais das fêmeas do que dos onze marmanjos que os representam em campo.
2) Que sejamos menos frouxos diante da possibilidade amorosa mais consistente. O primeiro a fugir à luta é mulher do padre.
3) Que os galinhas entendam que só na intimidade mora a grande sacanagem, a grande putaria, o grande erotismo, o mais pornográfico dos encontros.
4) Que a vida, muitas vezes, pode estar mais para Wando do que para Shakespeare. Que nunca devemos cair no conto das discussões complicadas e labirínticas. Como cantava o maior colecionador de calcinhas do mundo: “Uma mulher tem os seus desejos loucos, mas no fundo/ Seu coração só quer as coisas mais simples do mundo”.
5) Que numa mulher não se bate nem com uma flor, como já poetizava a Florbela Espanca. A não ser em uma fêmea declaradamente rodriguiana que te implore, de joelhos, na cama.
6) Que amar é… tentar adivinhar os desejos dela antes que sejam verbalizados em tom de enfado ou queixa. A mulher deixa rastros desses desejos nas entrelinhas da fala, nas pequenas indiretas e ao narrar histórias de outros casais. Se liga, lesado!
7) Que sem imperfeição não há tesão. A idealizada, padronizada e paranoica busca do corpo perfeito, como querem as revistas femininas, brocha ou broxa – os dicionários admitem as duas formas de murchar o orgulho macho. Obrigatório repetir um velho mantra a essa altura: homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite.
8) Que o sujeito que tem medo do amor não merece sequer o adeus de uma daquelas mãozinhas de plástico que enfeitavam os carros antigamente.
9) Que saibamos que a rotina exagerada irrita as mulheres. Nós amamos quando o garçom do repetidíssimo boteco diz: “O de sempre, doutor?” Ou quando o mesmo garçom já traz a nossa bebida e tira-gosto sem sequer fazer a pergunta. Sem essa de frescuragem gastronômica exagerada, você sabe a roubalheira, o truque, o caô dessa armação brasileira. Tente, porém, camarada, surpreendê-la com programas diferentes, amar é investigar a vida para torná-la menos dolorosa de forma solitária ou a dois.
10) Que entre um homem e uma mulher não existe regra, dica, manual, código do bom-tom ou cartilha, mas há uma coisa imperdoável: o fastio, a falta da fome de viver, velho Bowie, a indiferença silenciosa sem nada nunca ser dito nem perguntado. Tudo, menos corações tomados pelo mofo da covardia de não mudar o estadão das coisas.
P.S. Reinicie tudo lendo ou relendo esse livro ai de cima que ilustra o post. É genial para uma vida, não só para o lindo desentendimento entre homens & mulheres.
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