Nossa eterna incapacidade de aceitar que as despedidas fazem parte da vida.
Finalmente, dezembro vem chegando. Com ele, algum alívio, algum sossego e uma bela meia dúzia de alegrias. Mas com o fim do ano, para muitos, também chega alguma perspectiva de despedida.
Só ontem, nessa minha alegre e turbulenta vida de professora, foram duas turmas que me disseram seus adeus. Quase cem rostos, cem nomes, cem histórias, cem abraços marejando meus olhos.
Não tem jeito, não aprendi a dizer adeus.
E será que algum de nós aprendeu?
Seja por longo ou curto prazo, para longe ou para perto, para o bem ou para o mal, será que sabemos gerir e digerir despedidas?
Interessante o fato de que todos sabemos que a vida é permeada por caminhos que seguem direções opostas… E nem por isso conseguimos encarar separações como algo natural.
Eu não nasci com olhos claros. É uma realidade com a qual me conformei. Não me lamento a cada vez que me olho no espelho e vejo esses dois círculos escuros no meio do meu rosto. No Brasil não neva. E não nos chateamos a cada inverno por causa disso. Mulheres não fazem xixi em pé. E nem por isso fazemos um drama a cada vez que vamos ao banheiro.
E pessoas vão embora.
É uma realidade mais do que sabida. E aceitamos sem relutar? Sem barganhar, mendigar, suplicar? Não. Simplesmente não conseguimos admitir isso como uma verdade com a qual temos que conviver.
E nem sempre conseguimos materializar o porquê da tristeza na despedida. O porquê do nó que se instala em nossos peitos ao pensar no portão de embarque dos aeroportos ou nos veículos que, aos poucos, vamos perdendo de vista.
Às vezes é por prenúncio de saudade. Outras é por medo de perda. Outras por dependência. Apego. Posse. E muitas vezes é por mera consciência de que a vida é incerta, os caminhos independentes e o reencontro, uma mera hipótese.
Na verdade, quase sempre que não é um mero “até amanhã”, é ruim. Sobretudo com pessoas que, num dado momento, já foram o nosso “todo dia”. Pais, irmãos, amigos de escola, de faculdade, de trabalho.
Marisa Monte com seu “por isso não vá embora, por isso não me deixe nunca, nunca mais”; Bruno Mars com seu “don’t you say goodbye”; Piaf ou Jacques Brel com “ne me quitte pas”; Laura Pausini com seu “tu non lasciarmi mai”; Paralamas com seu “não me abandone jamais”. É uma angústia universal…
É um dos poucos momentos da vida em que adultos se permitem lapsos de irresignação e, sejamos sinceros, um certo egoísmo. Mas dentre tantas coisas lindas já escritas sobre despedidas por poetas e escritores célebres, na simplicidade das palavras que se tornaram célebres nas vozes de Leandro e Leonardo é possível encontrarmos a tão batalhada e necessária generosidade para lidar com as partidas.
“Não aprendi dizer adeus
Mas tenho que aceitar
Que amores vêm e vão
São aves de verão
Se tens que me deixar, que seja então feliz
Não aprendi dizer adeus
Mas deixo você ir
Sem lágrimas no olhar
Se o adeus me machucar
O inverno vai passar
E apaga a cicatriz.”
Mas tenho que aceitar
Que amores vêm e vão
São aves de verão
Se tens que me deixar, que seja então feliz
Não aprendi dizer adeus
Mas deixo você ir
Sem lágrimas no olhar
Se o adeus me machucar
O inverno vai passar
E apaga a cicatriz.”
Não tem jeito. Vai ser um eterno aprendizado para todos nós. Uma eterna tentativa de entender e aceitar que os rumos da vida simplesmente não estão nas nossas mãos. Que nossos planos e vontades não têm o condão de controlar a vida daqueles que nos cercam. Por vezes, nem mesmo de controlar a nossa.
E que no fundo, talvez seja exatamente essa fluidez dos caminhos, os encontros, desencontros e reencontros que tornem a vida inevitavelmente dolorosa, mas tão encantadoramente imprevisível.
RUTH MANUS
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