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quinta-feira, 10 de maio de 2012

MEU BUNKER - Luís Fernando Veríssimo

Uma vez um repórter foi me entrevistar em casa e depois escreveu que eu trabalhava num bunker sem janelas. Como o lugar em que eu trabalho tem duas boas janelas dando para um pátio e seus sabiás, concluí que ou 
a) ele já estava com a ideia do bunker pronta e as janelas não foram convincentes o bastante para mudá-la,
b) ele não viu as janelas, 
c) não se pode confiar em jornalistas. 
Ou então a impressão de que se trata mesmo de uma toca forrada de livros é tão forte que ele tinha razão: mesmo com janelas, é um bunker sem janelas. Pilhas de livros cobrem mesas e chão, e o dia prometido em que serão colocados nas estantes junto com os outros nunca chega. A Lúcia já desconfia de que seja um dia mítico, que talvez coincida com o fim dos tempos. Mas os livros que estão nas estantes têm uma certa organização. A flâmula do Internacional que pende de uma das prateleiras está presa, não me pergunte por que, pelos livros da Clarice Lispector, que pelo menos estão todos juntos. No bunker também tenho meu som, meus discos de vinil, que passam o tempo todo murmurando “Nunca mais”, e os compactos. É lá também que tenho o meu escarrapachão, ou a cadeirona onde, como o nome está dizendo, me escarrapacho, para ler e ouvir música. 

E nunca para dormir escondido no meio do dia, apesar de comments caluniosos em contrário.

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