Como trazido à baila pelo meu amigo Flavinho Medeiros, falta no
mercado das religiões uma que pregue que cada um tem o direito de configurar
seu próprio deus. Falta alguém escrever aprofundando uma doutrina sobre o
assunto. Corresponderia a uma necessidade que hoje as pessoas mais sensatas
sentem como comentou comigo o Beto Becker, quando me enviou um texto do
Spinoza, e que talvez tenha sido historicamente o precursor dessa doutrina.
Segue o texto. É longo, mas acho que vale a pena ler:
“Para de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que
faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes,
cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu
mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos,
nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que
há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo
mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar
teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te
fizeram crer.
Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a
ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer
meu trabalho?
Para de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico,
nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz...
Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de
necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como
posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia
criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo
resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas
são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que
te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu
guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no
caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que
há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não
há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te
dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única
oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás
aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste
comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do
que mais gostaste? O que aprendeste?
Para de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não
quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em
ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu
cachorro, quando tomas banho no mar.
Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu
seja?
Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes
grato?
Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do
mundo. Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito
de me louvar.
Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te
ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que
este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para
que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é
que estou, batendo em ti."
Baruch Spinoza.
Baruch Spinoza - nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677, foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz.
ResponderExcluirEra de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
Acredite, essas palavras foram ditas em pleno século XVII. Continuam verdadeiras e atuais até hoje.
Einstein, quando perguntado se acreditava
ResponderExcluirem Deus,respondeu:
-“Acredito no Deus de Spinoza, que se revela
por si mesmo na harmonia de tudo o que
existe, e não no Deus que se interessa pela
sorte e pelas ações dos homens”.